sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

dor no peito
palpitações
sudorese e calafrios

a enfermeira me manda pra casa

não consigo respirar
nem mexer os braços
me esforço pra falar

o plantonista diz que não é nada

minha visão turva
dores no corpo
quase não ouço

o médico me faz um atestado e me manda descansar

já tou fudido mesmo
quero que cuidem do meu cachorro
queimem meu corpo numa pira
no topo do Terraço Itália
peguem minhas cinzas
e joguem num gran fino
peguem meu dinheiro
e enfiem no rabo
cuidem da minha mulher
cuidem bastante dela
não a deixem chorar
diga que eu a amo
nunca quis magoá-la

as dores passam
volto a respirar
acho que eram gases

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Às vezes o passado vem e te morde na bunda
a mordida dói, mas a dor passa rápido
mas é bom esperar
por que qualquer dia desses
o passado volta e te morde mais uma vez
perguntas que eu nunca fiz
pra não deixar o passado morder minha bunda de novo

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Olhando os santos na parede, São João, São Lucas, São Paulo, minha mãe sempre foi devota, estou deitado na cama que era dela, que eu usei nos últimos anos com minha noiva. Conheci ela 4 anos atrás, eu tinha começado a faculdade de Engenharia, ela fazia Música, conheci ela na loja de histórias em quadrinhos, ela me perguntou algo sobre Sandman, eu lia um volume de Watchmen. Saímos dali, tomamos uns drinks, trocamos telefones e um beijo de despedida. 3 semanas depois, minha mãe descobriu um câncer que a matou 1 ano depois, em nenhum momento minha namorada desgrudou de mim, quando chorei a morte de minha mãe ela estava fazendo um café pra mim, me lembro bem, meu pai tinha me ligado pra contar a notícia e ela cantava "you're my cup cake" na cozinha, o cheiro forte de café, chorei, ela estava lá, me abraçou, não disse palavra, dormi em seus braços. Herdei a casa, meu pai foi pra Campinas, nessa época eu mantiha a casa com o dinheiro que ganhei, ela veio morar comigo.
5 anos passaram, eu me formei entrei para uma sociedade lucrativa, ela vendia viagens, cruzeiros, excursões, tudo era com ela. Pedi ela em casamento em 20 de Julho de 2012, foi surpresa pra ela, nós estávamos passando o fim de semana na praia, fomos até o pier, o sol se punha sobre o mar, ela disse sim e se jogou em mim. Eu nunca fui tão feliz quanto naquela época.
Não gosto de lembrar da última semana. Ela teve um aneurisma, morreu enquanto me abraçava, tinha vindo me contar que tinha feito a maior venda, fechou um cruzeiro inteiro pra um casamento de um famoso com uma famosa, ela não tinha respondido minha pergunta, pensei que estava cansada, deixei ela ficar ali abraçada comigo, seus braços penderam, o peso abandonou seu corpo, o sangue inundou minha camisa.
Sabem qual foi o pior?
Todas as preparações, escolher a roupa, ligar pro advogado, fazer todos os arranjos, e ver que ela não estaria ali quando eu chorasse sua morte, nunca me senti tão completamente sozinho, acho que eu ainda não aceitei isso, parece que ela vai abrir a porta, dar aquele sorriso e me perguntar como foi meu dia, a fronha ainda tem seu cheiro, suas roupas ainda estão ali jogadas na cabeçeira.
E eu aqui, no quarto que foi da minha mãe me perguntando se vale a pena estar aqui amanhã, se algum dia eu vou poder finalmente olhar pra frente e pensar em algo bom.
Estou deitado quando nossa filinha de 4 anos abre a porta e deita a cabeça no meu peito, ela é igualzinha à mãe. Ela responde todas as minhas perguntas sem nem dizer nada.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Japas usam pauzinho pra comer.
Hashis, eles dizem
não parece meio
insano?

E quem não é?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

caras como eu
não pensam muito no que falar
falam assim, por falar
mas, ao mesmo tempo
já tem tudo planejado na cabeça

caras como eu
se esforçam ao máximo
pra fazer o que prometeram,
pra entregar aquilo que disse

caras como eu
mudam toda hora
uma hora fazem desse jeito
outra hora, daquele
mas continuamos sempre os mesmos lá no fundo

caras como eu
sentem tudo tão forte
quando amor, vive ao máximo
quando ódio, só para quando vê o fim
quando ri, é bem alto

caras commo eu
amam uma menina
assim, pra vida inteira
sem hesitar, se entrega
sem volta, pra sempre

caras como eu
têm defeitos, milhões deles
mas, pensando bem
ninguém é assim
perfeito

caras como eu
não pensam em outra coisa
além daquilo que querem
até o dia que ele vai lá
e conquista

caras como eu
se sentem sozinhos
como se fosse assim pra ser
talvez a maioria morre sozinho mesmo
uns poucos se salvam

caras como eu
são raros,
ou assim eles pensam
talvez seja assim mesmo
ou pode ser que não

caras como eu
param o que tão fazendo
pra ler esse poema ruim.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Achei um caderno meu, com umas poesias, coisa antiga. Vou postar um deles, tá datado, é de 02/09/2008:


Um dia vi meu amor
correndo na rua
que nem um louco
atrás de um rabod e saia

só parou de correr
quando tropeçou,
(caiu bem feio)
todos riram dele

mas meu desengonçado sentimento
levantou outra vez
sacudiu a poeira
e não desistiu

continuou a correr
sem rumo, sem destino
até onde desse
ele correria,
forte, resistiria
à mais dura prova
para poder um dia se assentar
e amar de verdade

chamei ele do outro lado da rua
e fiz uma pergunta:
-por que não descansa um pouco?
ele me respondeu, ofegante:
-se parar
morro.

Começei a correr junto
sem fazer perguntas
correrei até o dia
que não conseguir correr mais

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Um conto de um convidado (Henrique, meu irmão), nunca escreveu aqui, é sobre a ignorância, gostei bastante...


Semana passada conheci a Ignorância. Já havia ouvido falar dela, mas nunca imaginei que a encontraria pessoalmente assim, em carne e osso. Ela era alta, com pernas grossas e tinha um sotaque irritante.
Nosso primeiro encontro não foi nada agradável, mas mesmo assim, resolvi dar uma segunda chance à ela. Chamei-a para jantar em um restaurante de sua escolha.
Ela escolheu um restaurante chinês. O cardápio não explicava sobre os pratos, mas ao invés de perguntar, escolheu o nome mais complexo, querendo parecer inteligente. Expliquei sobre o prato, que era forte e quase ninguém gostava, era como falar com uma parede, teimosa que só, me ignorou. Quando o prato chegou tentei ensiná-la a usar os rachis, mas além dela não saber, insistia em chamá-los de pausinhos pequenos.
Melhor não descrever os detalhes do nosso segundo encontro, mas posso dizer que foi consideravelmente pior que nosso primeiro. Alguns dias depois, o acaso nos uniu de novo e percebi sua postura errada, tentei ajudá-la, mas claro que ela não desceria do seu salto alto tão fácil assim.
Hoje desisti de ajudá-la, e quero mais é que ela se foda. Ouvi rumores que um dia desses, que ela saiu com alguns marginais em busca de drogas, e francamente, acho que lá é o melhor lugar para ela mesmo.