segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Olhando os santos na parede, São João, São Lucas, São Paulo, minha mãe sempre foi devota, estou deitado na cama que era dela, que eu usei nos últimos anos com minha noiva. Conheci ela 4 anos atrás, eu tinha começado a faculdade de Engenharia, ela fazia Música, conheci ela na loja de histórias em quadrinhos, ela me perguntou algo sobre Sandman, eu lia um volume de Watchmen. Saímos dali, tomamos uns drinks, trocamos telefones e um beijo de despedida. 3 semanas depois, minha mãe descobriu um câncer que a matou 1 ano depois, em nenhum momento minha namorada desgrudou de mim, quando chorei a morte de minha mãe ela estava fazendo um café pra mim, me lembro bem, meu pai tinha me ligado pra contar a notícia e ela cantava "you're my cup cake" na cozinha, o cheiro forte de café, chorei, ela estava lá, me abraçou, não disse palavra, dormi em seus braços. Herdei a casa, meu pai foi pra Campinas, nessa época eu mantiha a casa com o dinheiro que ganhei, ela veio morar comigo.
5 anos passaram, eu me formei entrei para uma sociedade lucrativa, ela vendia viagens, cruzeiros, excursões, tudo era com ela. Pedi ela em casamento em 20 de Julho de 2012, foi surpresa pra ela, nós estávamos passando o fim de semana na praia, fomos até o pier, o sol se punha sobre o mar, ela disse sim e se jogou em mim. Eu nunca fui tão feliz quanto naquela época.
Não gosto de lembrar da última semana. Ela teve um aneurisma, morreu enquanto me abraçava, tinha vindo me contar que tinha feito a maior venda, fechou um cruzeiro inteiro pra um casamento de um famoso com uma famosa, ela não tinha respondido minha pergunta, pensei que estava cansada, deixei ela ficar ali abraçada comigo, seus braços penderam, o peso abandonou seu corpo, o sangue inundou minha camisa.
Sabem qual foi o pior?
Todas as preparações, escolher a roupa, ligar pro advogado, fazer todos os arranjos, e ver que ela não estaria ali quando eu chorasse sua morte, nunca me senti tão completamente sozinho, acho que eu ainda não aceitei isso, parece que ela vai abrir a porta, dar aquele sorriso e me perguntar como foi meu dia, a fronha ainda tem seu cheiro, suas roupas ainda estão ali jogadas na cabeçeira.
E eu aqui, no quarto que foi da minha mãe me perguntando se vale a pena estar aqui amanhã, se algum dia eu vou poder finalmente olhar pra frente e pensar em algo bom.
Estou deitado quando nossa filinha de 4 anos abre a porta e deita a cabeça no meu peito, ela é igualzinha à mãe. Ela responde todas as minhas perguntas sem nem dizer nada.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Japas usam pauzinho pra comer.
Hashis, eles dizem
não parece meio
insano?

E quem não é?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

caras como eu
não pensam muito no que falar
falam assim, por falar
mas, ao mesmo tempo
já tem tudo planejado na cabeça

caras como eu
se esforçam ao máximo
pra fazer o que prometeram,
pra entregar aquilo que disse

caras como eu
mudam toda hora
uma hora fazem desse jeito
outra hora, daquele
mas continuamos sempre os mesmos lá no fundo

caras como eu
sentem tudo tão forte
quando amor, vive ao máximo
quando ódio, só para quando vê o fim
quando ri, é bem alto

caras commo eu
amam uma menina
assim, pra vida inteira
sem hesitar, se entrega
sem volta, pra sempre

caras como eu
têm defeitos, milhões deles
mas, pensando bem
ninguém é assim
perfeito

caras como eu
não pensam em outra coisa
além daquilo que querem
até o dia que ele vai lá
e conquista

caras como eu
se sentem sozinhos
como se fosse assim pra ser
talvez a maioria morre sozinho mesmo
uns poucos se salvam

caras como eu
são raros,
ou assim eles pensam
talvez seja assim mesmo
ou pode ser que não

caras como eu
param o que tão fazendo
pra ler esse poema ruim.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Achei um caderno meu, com umas poesias, coisa antiga. Vou postar um deles, tá datado, é de 02/09/2008:


Um dia vi meu amor
correndo na rua
que nem um louco
atrás de um rabod e saia

só parou de correr
quando tropeçou,
(caiu bem feio)
todos riram dele

mas meu desengonçado sentimento
levantou outra vez
sacudiu a poeira
e não desistiu

continuou a correr
sem rumo, sem destino
até onde desse
ele correria,
forte, resistiria
à mais dura prova
para poder um dia se assentar
e amar de verdade

chamei ele do outro lado da rua
e fiz uma pergunta:
-por que não descansa um pouco?
ele me respondeu, ofegante:
-se parar
morro.

Começei a correr junto
sem fazer perguntas
correrei até o dia
que não conseguir correr mais

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Um conto de um convidado (Henrique, meu irmão), nunca escreveu aqui, é sobre a ignorância, gostei bastante...


Semana passada conheci a Ignorância. Já havia ouvido falar dela, mas nunca imaginei que a encontraria pessoalmente assim, em carne e osso. Ela era alta, com pernas grossas e tinha um sotaque irritante.
Nosso primeiro encontro não foi nada agradável, mas mesmo assim, resolvi dar uma segunda chance à ela. Chamei-a para jantar em um restaurante de sua escolha.
Ela escolheu um restaurante chinês. O cardápio não explicava sobre os pratos, mas ao invés de perguntar, escolheu o nome mais complexo, querendo parecer inteligente. Expliquei sobre o prato, que era forte e quase ninguém gostava, era como falar com uma parede, teimosa que só, me ignorou. Quando o prato chegou tentei ensiná-la a usar os rachis, mas além dela não saber, insistia em chamá-los de pausinhos pequenos.
Melhor não descrever os detalhes do nosso segundo encontro, mas posso dizer que foi consideravelmente pior que nosso primeiro. Alguns dias depois, o acaso nos uniu de novo e percebi sua postura errada, tentei ajudá-la, mas claro que ela não desceria do seu salto alto tão fácil assim.
Hoje desisti de ajudá-la, e quero mais é que ela se foda. Ouvi rumores que um dia desses, que ela saiu com alguns marginais em busca de drogas, e francamente, acho que lá é o melhor lugar para ela mesmo.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Estranho numa terra estranha
não sei onde vou
nem sequer de onde vim
mas me sinto mais perto a cada passo.
Se do Bem ou do Mal
só posso saber na hora...
Por que não me cabe perguntar
nem questionar minhas maneiras
isso eu farei só no dia
que os sinos dobrarem em minha homenagem.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Mais uma vez na sarjeta
a ressaca me atinge como o ciúmes
carcomendo os cantos do meu ser
deixando só um vazio imenso

abro os olhos
tou na frente da casa dela
dormi na calçada
minha garganta dói demais
devo ter feito uma serenata
acho que ela não gostou,
pois fiquei do lado de fora

tento me levantar, o Sol brilha como nunca
mas não me dá nenhuma energia
preciso de uma aspirina
ou um flirt paralizante qualquer
pra poder achar o caminho da minha casa
ou onde quer que seja
que eu estacionei essa noite

bah,
não tenho força pra levantar
checo a garrafa, nem um restinho
vou deitar aqui até recuperar a força
ou até que ela venha me ajudar

então eu espero
espero, espero
a porta se abre
ela sai
e me dá um chute nas costelas
e volto a dormir...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sem querer
tropeço naquele escrito
de tempos atrás

naquela carta escrita
por outra pessoa

naquela canção dedicada
àquele que está longe

eu não deveria me sentir assim
tudo está tão perfeito
nunca esteve melhor
eu a amo com toda a força
eu não quero me sentir assim
é como se um inseto mordesse meu coração
sem qualquer motivo ou razão
o ciúmes se instala
e corrói cada sentimento bom
e o transforma em algo cinza, fedido
o fel transborda em minha mente
quero vê-la, tirar satisfações
agora estou cego
não adianta conversar
só quero apagar o passado
o que me dói
é que eu não posso

Então ela aparece
e tudo isso vai embora
num flash.



Queria aproveitar pra dizer umas coisas que vêm estado na minha mente ultimamente: amar é, apesar de tudo, renunciar à uma parte de seu ser em prol do bem do relacionamento, não por um motivo egoístico, mas quando se tem a vontade verdadeira de mudar e assim agradar à parte amada. Ultimamente eu venho descobrindo partes de mim que eu não conhecia (a parte que escreveu isso aí em cima), então, amar é aprender. Amar é evoluir junto com a pessoa amada. Amar é sofrer de vez em quando (o processo para se mudar não é nada fácil). Amar é tornar-se uma pessoa melhor. Amar é desejar.
Te amo, Dani

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Tá aí a minha tentativa de homenagear Charles Bukowski. Sei que ficou uma merda.


Moscas

É tarde, tão tarde que é quase cedo, tipo umas 5 da manhã, tou voltando pra casa de metrô depois de encontrar uns amigos num bar qualquer, na vila Mariana, isso eu lembro certo. Sei que o segurança teve que expulsar a gente, meus amigos começaram a discutir sobre a existência ou não de Deus, acho ridículo quem se exalta falando disso.

Enfim, cá estou, um longo caminho até a minha estação, já vou recuperando minha consciência, esperando o trem chegar, em uns 40 minutos já to em casa dormindo, prontinho pra ressaca de amanhã, pronto pra mais um dia ruim num trabalho que eu não curto fazer. É nessa hora que chega meu trem, eu entro e me sento, o vagão está vazio, deserto, exceto pela mulher sentada a dois bancos na minha frente.

Não consigo não encara-la, Madonna, como ela é linda. Está usando um vestido verde, a saia é curtíssima, posso ver suas coxas musculosas, ela está de pernas cruzadas, a saia está tão levantada que quase posso ver sua bunda. Seus olhos são verdes, por um segundo, nosso olhar se cruza, e ela parece ver o que de mais íntimo eu guardo em minha alma, mas eu só consigo devolver aquele olhar de tesão pra ela.

Eu quero que ela me abrace, quero sentir o perfume dela enchendo todos os buracos do meu ser. Quero ter uma história com essa mulher, quero que ela me conte tudo que ela pensa, quero ser cúmplice de sua vida. Quero que ela confie em mim, quero confiar nela. Quero dar um beijo nela. Queria poder ter a coragem de chegar lá e dizer “você é linda”, ou “eu quero te amar”. Qual seria a reação dela? Será que me daria um tabefe? Me chamaria de tarado? Acho que ela sente o meu bafo de álcool daqui.

Não quero que ela sinta nojo de mim, eu não sou assim, não quero que ela tenha a idéia errada, eu quero que ela sinta o mesmo por mim... mas eu sou um cara nojento, eu bebo, eu fumo, eu brigo, eu escrevo.

E assim ela se levanta, será que ela vai se sentar ao meu lado e sussurrar ao meu ouvido? Será que o que eu pensei era verdade? Será que ela vai me amar? Será que ela vai mudar minha vida?

Ela sai do vagão.

E eu continuo aqui fedendo, as moscas rondam minha cabeça como os pensamentos que eu teimo em abandonar.

Mais um dia que eu passo sozinho.

Preciso de um drinque.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Amos nunca amou ninguém. Dentro de sua cabeça ninguém era merecedor de sua confiança, conhecia bem demais as pessoas para saber que nenhuma delas o surpreenderia, que nenhum ser humano que fosse nesse planeta Terra poderia agir de uma forma que ele não reconhecesse ou prevesse como um movimento do xadrez.

Amos tinha 19 anos e não sabia de nada.

Vinha de uma família rígida, seu pai, coronel aposentado, respeitava as regras acima de tudo, com ele não havia perdão, apenas a punição certa e o medo de errar na frente desse homem. Sua mãe respeitava o pai, num ciclo perfeito. Não deixavam-no brincar com outras crianças, nem tinha vontade de brincar na rua mesmo... preferia a frieza de um computador, a escuridão de seu quarto, e a eventual visita de um primo ou outro. Nos estudos, Amos era o melhor, dedicava-se completamente, tentava nem respirar enquanto resolvia os exercícios de álgebra como se fossem brincadeirinha.

Ninguém era melhor que Amos.

Teve poucos amigos. Todos eles o decepcionaram de alguma forma, deixando cada um uma cicatriz cada vez mais feia no jovem, namoradas que o traíam, amigos que o decepcionavam, amores não correspondidos, irmãos ausentes, seus ídolos pareciam zombar dele, até seu reflexo no espelho parecia dissimulado.

Amos conheceu uma menina.

(continua)
(continuando)

Ela era dançarina. Conheçeu Amos num restaurante, ela havia derrubado uma taça de vinho em seu terno, após os pedidos de desculpas e gentilezas mútuas, sentaram-se juntos. Curiosamente, nesse dia, só tinha os dois no restaurante, haviam esperado pelos seus encontros, que nunca apareceram naquele dia. Já amanhecia, Amos tinha que trabalhar e Amélia tinha que treinar, trocaram telefones, ligaram, e quiseram se encontrar de novo no mesmo dia. Amélia teve uma história conturbada. Amou outro dançarino que só fez de a machucar, mas, no fundo do coração, Amos era grato a essa pessoa, nossas experiências nos fazem quem somos, se essa é a mulher que amo, então amo todas as partes dela, as boas e as ruins.

O que é essa vontade?
O que significa essa necessidade, de sentir seu perfume todo dia, de abraçá-la toda manhã, de ouvir sua voz antes de adormecer?

O tempo passou. O Jovem casal enamorou-se. A família de Amos a odiava, ela era a voz da mudança, uma emissária do diabo, Aquela que levaria o bom moço para o mau caminho. Amos não ligava pro que falavam, tinha que vê-la todo dia, por mais que dissesem que ele mudou, que ele era outro, nada mais importava.

Assim passam os dias. Amélia e Amos, juntos. Além das adversidades do mundo, os dois contra o resto, isso é a felicidade, é o sentido da vida. Não importa mais o quanto ele sabe, de que importa ser rico se ela não estivesse ao seu lado? De que adiantaria ser o melhor de todos se não há ninguém para dizer "estou orgulhosa de você"?

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Ele era estudante de medicina, comprometido, estudava aos fins de semana, trabalhava durante o dia num lava-rápido pra descolar o dinheiro pros livros (seu pai pagava a faculdade), mas Henry tinha um sonho: construir castelos de areia, ele sonhava com castelos altos como prédios, castelos que nenhuma onda seria capaz de derrubar, que se ergeriam e ficariam dias, semanas, anos em pé, turistas tiravam fotos, repórteres fariam matérias, nos seus sonhos era glorioso.
Ela estudava filosofia, era formada em línguas, havia ensinado inglês pros monges do Nepal. Ela não tinha sonhos, ela vivia um grande e longo sonho.
Conheceram-se no lava-rápido, Henry lia um livro de anatomia e tomava notas, ela chegou de fininho e colocou a cabeça no meio do livro, quando perceberam já estavam se beijando no banco de trás do carro dela. como devia ser, enamoraram-se.
Um dia ele contou seu sonho a ela, pensando que ela daria risada por ser algo tão idiota, ela não riu, disse que seria a coisa mais linda do mundo construírem seus castelos juntos, em todas as praias do mundo, onde todos veriam a grandiosidade dos castelos de areia...
Decidiram então parar de sonhar, ela arrumou um emprego, ele terminou a faculdade. Ela começou a trabalhar numa escola de línguas para adultos, ensinando Italiano e Francês para adultos. Ele terminou a faculdade e abriu um consultório na cidade, tornou-se um médico famoso, era obstetra, fazia os partos das famosas da novela. ganhavam muito dinheiro juntos.
Os anos passaram. 1 ano virou 2. 2 viraram 5. 5 viraram 10. 10 viraram 25.
Após 25 anos casados, Henry e Sueli ficaram conhecidos, ela abriu a própria escola, e ele atendia mais de metade das grávidas da comunidade.
No dia 12 de novembro de 2010 (após 25 anos, 3 meses e 14 dias casados), Sueli voltava da escola, trazia um presente para Henry, num embrulho vermelho, laçado com uma fita verde, era aniversário dele, ela trazia uma primeira edição de seu livro favorito, assinada. Ela cantava alto junto com o rádio, estava realmente feliz.

Ele nunca chegou a saber o que era no pacote.

Na lápide, Henry mandou escrever "Sueli. Viveu o sonho da maneira que quis. E foi feliz assim". Chorou pela mulher que amava. Chorou pela vida perdida. Chorou porque ela foi feliz de verdade. Chorou por que nunca construiu o castelo de areia.
Dois dias depois do velório, Henry deixou uma carta na mesa de sua secretária, deixou dinheiro para a moça e mandou fechar o consultório. Pegou umas 5 trocas de roupa e fez uma mala e pegou o 1º avião para o litoral.
E então Henry, com 49 anos, viúvo, ex-obstetra construiu seu primeiro castelo de areia.


Henry se ajoelha do lado do majestoso castelo, o sol brilha vermelho atrás da torre do castelo, o por do Sol como nunca havia visto marca Henry, uma lágrima desce pela face agora barbada e cai no peito. Lembra de Sueli, lembra do lava-rápido, lembra de seu cheiro, lembra do seu consultório, lembra do acidente de carro que levou sua vida, lembra de como ela era feliz ao seu lado, lembra de como tinha inveja dela, lembra de ter escolhido sua melhor roupa para o enterro (um vestido verde, como ela gostava daquele vestido).
Henry tenta gritar a plenos pulmões o grito que esteve entalado por 25 anos em sua gargante, algo que nunca disse ou mencionou.
Mas a voz não sai.
Então chora pela humanidade perdida.
Chora pelo sonho realizado.
E pela muher que he deu coragem pra isso.
E, pela primeira vez.
Chora de felicidade.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Separamo-nos

começou assim como tudo começa
cresceu, como tudo que há de crescer
turvou, assim como a visão do moribundo
morreu, como tudo que não há de morrer

ela gostava de ketchup
eu, de mostarda
cada dia era um suplício
que já tardava em findar

ela assistia novela mevicana
eu, a CNN
tão ruim era cada momento
que se tornava em litígio

ela gostava do João Kleber
eu, de Fernando Pessoa
eu tentei ver algo bom naquilo tudo
só enxergava as cinzas do passado

ela gostava de pagode
eu, de rock
como fui deixar isso acontecer?
por que fui tão cego?

ela queria ter filhos
eu queria ter cachorros
um dia ela me perguntou o por que
disse que não sei, mas era pra ser

ela queria casar na igreja
eu, no civil
coloquei minhas coisas no porta-malas
e fui ser feliz

ela queria que eu voltasse
eu queria distância
assim termina
o que nem devia ter começado.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Um dia a gente pisca e tudo mudou de repente
tudo aquilo que a gente aprendeu com nossos erros
se esvai por entre os dedos
o mundo que a gente via mudou completamente

cadê o amigo que tava aqui?
num segundo, todas as regras não se aplicam mais
volto à estaca zero da minha sanidade
não quero mais nada além da solidão

o fim de tudo nunca me pareceu tão próximo
ou mesmo tão querido
a vida é dura, eu devia ter me acostumado

será que existe mesmo a luz no fim do túnel?
será que eu quero uma luz no fim do túnel?
só cabe a mim esperar.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Essa é a história da menina que lia mentes.

Era uma menina normal, tinha 21 anos quando conheci, estudávamos juntos, ninguém gostava dela, mas algo em seus olhos me atraía. Tomei coragem (eu não era uma visão agradável na época, eu era um geek completo, e ela era simplesmente linda demais) e fui até a mesa dela, era uma quinta-feira, o Sol brilhava como nunca, refletindo seus belos cabelos castanhos, ela simplesmente me disse que sim, que podia ir tomar algo comigo. Apesar de não entender nada, saímos da sala conversando, o de sempre, de onde éramos, o que queríamos da vida e tudo mais (mais tarde soube que ela já sabia,mas perguntou assim mesmo).

Foi assim que eu comecei a gostar dela, todo dia a gente saía pra tomar um café, que nem sempre era um café e nem sempre podíamos estar juntos, mas era assim que passavam os dias, eu esperava como uma criança na manhã de natal a hora de passar um tempo com ela.

Assim passou o semestre, minha vontade de vê-la crescia, eu me pegava pensando no que ela estaria fazendo, se estava feliz ou não. Peguei o telefone e liguei pra ela, a voz parecia alterada, perguntei se queria ir no cinema ou algo parecido, ela disse que sim, que gostava de passar tempo comigo. Acabamos indo ao cinema. Ela parecia apreensiva, desviava o olhar do meu, seus olhos estavam vermelhos, sua maquiagem borrada, parecia apreensiva e disse que tinha algo importante para me contar.

Foram umas boas duas horas até eu convencê-la de que eu ia acreditar no que ela me contaria, seja lá o quê fosse, e que não ia dar risada nem chamá-la de doida. Quando ela finalmente decidiu contar, me disse que o que ela mais gostava em mim era a minha sinceridade... que diferente da maioria das pessoas eu dizia o que realmente pensava e não tinha medo de demonstrar o que eu sentia. Achei estranho o sentimento com o qual ela me dizia tudo isso, era como se uma pessoa que passou a vida inteira acreditando cada vez menos nas pessoas, de repente sentisse que suas teorias poderiam não estar corretas.

Confesso que me assustei quando ela me disse que sabia o que eu estava pensando e me repetiu palavra por palavra o que eu tinha acabado de pensar. Era absurdo, praticamente impossível um cético como eu acreditar numa história dessas, mas eu acreditei... Fizemos um trato, ela nunca esconderia seus pensamentos de mim, seria injusto, ela concordou. Vivemos juntos por alguns anos, foram anos felizes, anos que nunca esquecerei.

Não vou contar o por que de ter acabado tudo, era problema nosso, os pensamentos são uma coisa muito perigosa para se brincar. E até hoje me pergunto porque não era eu quem tinha esses poderes? Assim eu saberia por quê a única pessoa que já amei tirou sua própria vida.



Fiz com ela, ó: Kel

segunda-feira, 27 de julho de 2009

um dia eu cresci
completei 18 anos, aprendi a dirigir
fui pra faculdade, começei a trabalhar

e agora?

queria voltar a ser criança
pra corrigir todos meus erros
e ter uma vida adulta diferente

queria aprender a amar

queria saborear a satisfação de ser amado
eu seria outra pessoa hoje
talvez nem estaria aqui escrevendo

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Vida.

O ar entra, e o ar sai
ganhamos segundos
que transformamos em anos
na medida do nosso ego.

quando pequenos, tudo parece tão grande
podemos dar a volta no mundo em meia hora
seremos deuses com 50 centavos no bolso
e um pouquinho de inocência na cabeça.

Estudamos o passado
pra tentar desvendar o futuro
aprendemos as letras, e os números
e juntamos em contas e frases intermináveis

conseguimos ver o infinito através de uma lentezinha
vemos também o infinitamente pequeno pela mesma lente
que o bicho homem criou
para outro bicho homem usar

mas tudo isso é fútil
uma vã tentativa de enganar a mestra de todos nós
a infalível Morte
que vai pegar todo mundo, sem exceção

alguns gostam de acreditar que tudo faz parte do plano
o esquete maravilhoso de uma entidade suprema
que lê os nossos pensamentos
e nos pune severamente

não existe o grande plano
a comida entra, sai a merda
é assim pra todo mundo
até que num dia

o ar não sai mais.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A morte tem um narigão vermelho?

O quão irônico seria
se no momento de nossa morte
sentíssemos cócegas
ao invés de dor
assim, sempre morreríamos sufocados
pela própria risada
causada pela grande piada sem graça
que é a vida.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Um conto de tristeza

Um dia vagava eu pela rua, tentando achar a verdade. Não achei nada, como de costume, mas isso não vem ao caso no momento. Quando as pernas doíam, me sentei num banco de praça, pra descansar e continuar minha jornada depois. Um menino sentou-se ao meu lado, tinha roupas largas, uma camiseta azul e uma calça cáqui branca e sapatos gastos. Carregava um coração de chocolate, embrulhado num papel celofane vermelho, tinha marcas de dedo do menino e parecia bem antigo. Seu aspecto era um dos mais tristes que eu já vi, tinha um rosto lindo, cabelos castanhos, lhe desciam até os ombros, olhos azuis, vermelhos de tanto chorar, era alto e tinha os ombros largos.

-O que aconteceu, garoto? Recebi o silêncio como resposta, seu olhar parecia à beira das lágrimas

-Tem fome?

-Tenho sim, e sede também

-Se eu te levar pra comer e beber, você me conta o que aconteceu?

-Ã-hã

Levei-o até o boteco da esquina, o lugar parecia bem ruim, cheirava a malandragem e óleo de cozinha velho, o chão era escorregadio, não tinha nenhum cliente, atrás do balcão, uma infinidade de garrafas de bebida e um caixa (provavelmente o dono daquela espelunca), era gordo, carregava um pano amarelado, atrás dos óculos dele via-se um homem duro, sem sentimentos, que reconheceu o menino, mas não disse palavra alguma.

Pedi um P.F. qualquer e um refrigerante para meu companheiro e uma cerveja pra mim (também tinha fome, mas não ia comer naquele buraco...). Durante a espera, o menino não proferiu palavra, ficou sentado de lado na cadeira, de modo a não me encarar, eu esperei também, algo naquele jovem me intrigava, me era familiar, queria saber o que era.

Chegou a comida, num prato muito grande, duvidei que ele comeria tudo aquilo, um monte de arroz branco, uma poça de feijão aguado e um bife esturricado, de uma semana de idade. Tomei minha cerveja enquanto via ele atacar aquele monte de comida com voracidade, não acreditei que tudo aquilo de comida cabia naquele estômago diminuto. E cabia. Quando terminou, limpou os lábios com a manga da camiseta, soltou um arroto e me encarou.

-Obrigado, moço.

-De nada, que fome hein, campeão

-É, não comia a dias

-Agora me conta o que aconteceu.

-ah, sim. E tirou uma foto muito gasta do bolso, em cores, mostrava um bando de gente bonita (e rica, usavam roupas de grife) num sofá rosa, todos sorriam, mostrando seus belos dentes, que receberam tratamento caro, seus belos corpos magríssimos, mas que produziam merda, peidos e arrotos como qualquer um. Não confiava em nenhum daqueles rostos joviais e sorridentes. O menino me apontava um rosto de mulher, no fundo do sofá, abraçada com um homem careca, o menos confiável do grupo, mas a mulher que ele apontava parecia ter uns 15 anos, a mais bela da foto, cabelos louros, escovados e penteados, olhos verdes e nenhuma maquiagem, mas ainda era a mais bela.

-Foi ela que me deu isso aqui. E apontou o coração de chocolate.

-Qual é o seu nome?

-Junior

-Junior de que

-Alberto Junior de Freitas

-Você tem casa?

-Fugi, por causa dela

-Quantos anos você tem?

-Quatorze

-Por que ela te deu esse chocolate?

Então, ele começou a contar a história mais triste que já ouvi: eles estudavam juntos, estavam na oitava série, Junior não tinha amigos, ia todo dia sozinho para a escola, a pé. E Amélia (a menina da foto) morava perto, mas ia de carro com um grupo de outros estudantes, um deles era repetente e já podia dirigir. Junior sempre olhava para a menina, estudavam na mesma sala, mas ele nunca havia falado com ela, sentava duas cadeiras atrás dela, sentia seu suave perfume cada vez que uma lufada de vento passava, isso enchia o coração dele de alegria, algo que nunca havia sentido antes. Enquanto me contava, lágrimas se preparavam no fundo de seus olhos. Contou que cada dia, depois da aula a menina ia na casa do namorado, só voltava tarde, então ele ia até a roseira de uma velha da rua e pegava a rosa mais vermelha e cheirosa e colocava no batente da porta dela, fazia isso todo dia, e quando a roseira da velha acabava, ele procurava outra até a da velha voltar a dar flores, às vezes ele era pego, às vezes não. Então esperava ela chegar, escondido atrás de um arbusto, e via ela chegar, pegar a rosa e cheirar, só isso valia a semana pra ele.

E os dias de Junior eram assim, ele disse que era feliz daquele jeito, eu perguntei se ele não ressentia o fato de nem conhecer ela, ele disse que não importava, queria ver ela feliz, não importava que ela namorava, se ela gostava ou não do namorado dela, ele queria a felicidade dela, mesmo que por um momento, um segundinho do dia que seja.

Assim foi o verão de Junior, ver a amada cheirar a flor, dar um sorriso e entrar em casa. Um dia, ela o viu colocando a flor, tinha chegado mais cedo em casa, reconheceu ele da sala, e pediu para ele entrar na casa dela

-é você que coloca isso aqui todo dia?

-sim

-eu guardo todas, todos os dias. E mostrou um vaso enorme, cheio de rosas vermelhas.

O menino ficou sem ação, não sabia o que dizer, nunca se preparou para esse momento, ficou calado, simplesmente, ela se aproximou, e agradeceu, deu um beijo na testa dele e pediu para que ele se retirasse. Mesmo sem entender, ele se retirou.

No dia seguinte, eles conversaram na escola, eram companheiros de sala. Mas no intervalo, ela corria para os amigos, deixando-o sozinho mais uma vez. Passou o outono, as férias e o inverno, Amélia passou a ser a melhor amiga de Junior, contava tudo pra ele, sobre o namorado, os amigos, a escola, tudo. Amélia dizia que queria mais tempo com Junior, se ao menos eles tivessem se conhecido antes, tudo seria diferente, mas mesmo assim, ela corria para os braços do namorado dela, e o menino olhava, e sentia um pesar, vontade de fazer algo por ela, mas se sentia cada vez mais impotente, amava e queria ser amado.

Um belo dia, ia colocar a rosa na porta de Amélia, e o namorado careca dela o viu, surrou-o e disse que se o visse ali de novo, arrancaria a cabeça dele e colocaria uma rosa dentro. Amélia soube disso e falou que nunca mais poderia conversar com Junior.

Um dia, sem rosa, dois dias, sem rosa, dez, vinte, cento e noventa e cinco dias sem rosa, e chega uma correspondência na casa de Júnior, o tal coração chega, e uma carta explicando que Amélia teve de se mudar por causa do que sentia por Junior, que não podia voltar, temendo a reação de seu namorado, mandou uma foto também (a foto que vi), dizendo que estava bem, mas era melhor ficarem separados, a carta não tinha endereço nem assinatura.

Dês de então Junior fugiu de casa, carregando só o coração, a foto e as roupas do corpo, batendo de porta em porta, perguntando por Amélia.

Nisso o garoto chorava aos soluços.

-Junior, dias piores virão.

-Como pode ser pior?

-Acredite, pode ser bem pior.

Dei algum dinheiro para ele, mandei voltar para casa, seus pais deviam estar preocupados, disse que não ia ligar para a polícia, fiz ele prometer que ia voltar, deu as costas e mandei que jogasse o coração fora. Ele pareceu não ouvir. Um dia ele aprende, é jovem.

Cheguei em casa, desisti de procurar a verdade, não fazia mais sentido. Sentei na minha cama, nem acendi a luz, chorei, chorei pelo garoto, chorei por mim mesmo, chorei por todos os corações partidos, chorei por toda a felicidade desperdiçada, chorei por um mundo que não tem lugar pros sensíveis, só para os brutos. Chorei, pois aquele garoto era eu.



Conto dedicado a Kell, minha amiga, companheira de crises existenciais que eu nunca vi, mas que sempre me deu uma força quando eu precisei (em tão pouco tempo que conheço ela), que também chorou pelo menino e pela humanidade.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Poema Humano

"A vida é tão ruim, cheia de decepções, miséria e sofrimento, e vem em tão pequenas porções"
woody allen disse assim uma vez
tenho que concordar
acho que o mundo tem que concordar

não sei se existe uma força
ou se somos só nós mesmos
que nos fazem ser tão imperfeitos
tão cheios de angústia e sofrimento

somos jogados no mundo sem ter opção
criados por outras pessoas que não escolhemos
vamos a lugares que não queríamos ir
sofremos quando estamos mais felizes

euqueria poder saber pedir perdão
mas não sei como, não tenho palavras
queria ser perdoado
por algo que eu nem sei se fiz

me sinto preso no vácuo
que tem cheiro de perfume
posso sobreviver 30 segundos
onde está a improbabilidade que me salvará?

não tenho mais esperança na humanidade
contra todos e contra ninguém
vejo o pior das pessoas, sempre
talvez sou eu quem me faz infeliz

será que é pedir demais?
mudar, se aquele que queria ser
ou ser feliz sendo aquele que queiram que eu seja
será que é exigir muito de mim mesmo?

a quem cabe responder?
a quem cabe perguntar?
Não souberam a quem absolver,
nem a quem condenar.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Wishlist

Quero um amor que goste de novidades,
de deitar à relva no fim da tarde
e comentar o dia, as notícias do rádio
e rir junto das besteiras do mundo

Quero um amor do sexo oposto
cada noite será uma coisa nova
que nunca se repetirá
ardentes, e únicas noites

Quero um amor que goste de música
não de um estilo ou outro, mas de música
para poder ouvir o que for que passe no rádio
e ainda sorrir ingenuamente

Quero um amor que goste de cinema
pra poder rir com alguma comédia boba
e para poder chorar junto
(quando for possível, por que macho não chora)

Quero um amor que questione
não tome nada por verdade absoluta
que seja idependente, discorde de mim
que brigue, seja teimosa

Não quero um amor perfeito
isso é história pra boi dormir
coisa de retardado
as diferenças fazem parte

Mas, primeiramente
quero um amor que exista
o resto é resto
que talvez nem faça sentido

acho que o que eu queria mesmo
era aprender a amar uma pessoa
saber o que dizer quando ela está perto
ter coragem de ir atrás e lutar pelo que eu quero

minto...
o que eu
queria
era
amar
a mim mesmo.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Cirurgião da alma

mês passado, fui no médico
pra ver se ele curava minha solidão

logo na sala de espera, vejo uns 10 solitários
todos a exatamente uma cadeira de distância uns dos outros
não tinha lugar pra mim
fiquei de pé num canto mesmo

a secretária chamou meu nome,
entrei no consultório

-Doutor, cura minha solidão
-Filho, Solidão não se cura
-E agora, vou viver doente?
-Não, vamos tentar tirar o amor de você

me ordenou para um exame
um raio X da alma

voltei no dia seguinte com o resultado
-Garoto, seu amor é do tamanho de um trem
-É grave, doutor?
-Se não remover logo, ele te mata em pouco tempo

marquei a cirurgia
no fui internado com antecedência

Já na mesa de operação
uma enfermeira me pergunta:
-Você nunca vai amar de novo, tem certeza?
-Mas é claro, tira logo esse negócio daí

fiquei internado uma semana,
a anestesia pro sentimento não é fraca não

Ninguém veio me visitar.
O médico trouxe meu amor num jarro
pra guardar de recordação, sabe.
Mandei cremar, pra eu não cair em tentação.

Saindo do hospital, voltei pra casa
notei larga diferença, já não me importava mais mesmo...

Fiz um bigodinho na foto que eu guardava dela,
Joguei fora todas as recordações
de quem já amei algum dia
não foi muita coisa, não faz diferença

hoje sou feliz
na minha neutralidade.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Cérebro:\\

ouvi dizer
que criaram uma pílula
que cura as dores do coração
e fecha as feridas abertas

fui comprar a tal da pílula
para curar o amor perdido
balela
só me senti mais só

o ser humano é uma máquina
programado e estruturado
para a vida social
para amar, procriar, caçar

o que nós precisamos mesmo
é de manutenção constante
de desligar um pouco do mundo
formatar nosso cérebro

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Muro de Concreto

Muro, de concreto
inabalável
incomparável
inacabável.

Um muro alto,
chega aos céus,
atravessa nuvens
e fere os anjos

um muro grosso
nada passa por ele
rancor, amizade, vida, morte
tempo, vento, chuva ou Sol

Ali pelo muro,
um jovem casal descobriu o amor,
que belo começo,
e também seu fim, tão trágico.

Dentro do muro colocaram tesouros
que encheriam qualquer um de orgulho
moedas de ouro, a resposta da vida, do universo e tudo mais,
amor, carinho e uma calcinha usada.

Um muro longo
chega onde quer,
atravessa os oceanos, montanhas e planícies
ou só a avenida do bairro.

O muro não tem razão,
sabe que ninguém o construiu,
está lá hoje só por estar, e, amanhã,
não está mais.

Veja, o muro têm grandes buracos
onde famílias de ratos fazem morada,
procriam e se disseminam
pelas escuras entranhas do muro

Dentro do muro também moram
baratas, cupins, escorpiões
rancor, ódio, hipocrisia,
todo tipo de praga.

O muro tem vontade própria,
pode facilmente purgar toda praga
mas acha que é só um muro
de concreto, ali, parado.

O muro sucumbe às pragas
fica baixo, insignificante
pequenino, frágilizado pela doença
e vira uma pilha de tijolos.

Assim morre um muro, antes, o glorioso muro de concreto
que agora é uma insignificante ilha de tijolos podres
que foi tomado pela doença, esmoeçeu e pereceu
a culpa é só dele, que pensou que era só um muro.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A Morte joga xadrez?

Vi uma vez num filme
que a morte joga xadrez
talvez seja verdade
talvez não

vou treinar minhas habilidades
pra poder ganhar da morte mais uma vez
e sempre ganhar dela, dia após dia
pra eu poder viver pra sempre

vou poder ver ela todo dia
aproveitar a beleza da vida a cada dia
mas isso não existe mais quando ela não está por perto
quando não sinto sua presença

quando não quiser mais ver a imundície dessa vida
peço arrego e deixo a morte me vencer
mas só quando eu quiser

mas, isso só se a morte realmente jogar xadrez
por que se ela jogasse futebol
aí eu tava fudido.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O Quadro de meu ser

Olho para um quadro
totalmente em branco, dentro do meu ser.
a moldura é linda, muito trabalhada
no canto, espremida
vejo uma assinatura

um pequenino "A",
escrito em dourado, em letra de forma
letra de mulher.

(ao olhar de novo
vejo que não havia assinatura originalmente
ninguém assinou o quadro em branco)

Quem pode ter praticado tamanha zombaria?
começo a vasculhar minha mente, para saber quem zombou
do quadro do meu coração

pode ter sido algum ato de vingança?
por alguum "Alan", "André"
algum tipo de brincadeira?
"Amigo", "Anônimo"

Nada disso, colegas
quem zombou de mim
foi o "Amor" mesmo.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O Capital.

Amor, vendido em pequenas embalagens:
azuis, para os meninos e
rosa, para as meninas;
a preços módicos na loja da esquina.

todos os nossos medos estão trancados
em grandes caixas negras embaixo de nossas camas
para que nunca tenhamos que lidar com eles,
pois tudo é tão belo.

a felicidade está sendo sorteada na TV
por que quase ninguém tem uma verdadeira,
(a felicidade que nos temos é uma cópia barata)
mas mataríamos por uma.

Dentro da loja, a tranquilidade está esquecida;
ninguém mais se interessou por ela
depois que o stress
ficou popular nas lojas da cidade grande.

a razão é um produto raro,
e muito procurado,
sua cópia é distribuida nas igrejas
e pede-se em troca a inocência

Perdeu o juízo?
compre-o em embalagens de 6,
caso você o perca de novo
em algum bar por aí.

E a esperança, como vai?
precisa de uma nova?
venha arrumar a sua;
nos postos credenciados do governo.

a inveja, vaidade e o ódio são proibidos
mas são vendidos por traficantes
em becos escuros pelas ruas
por preços cada vez mais altos.

vamos todos comprar nossas novas vidas
que estão em liquidação no shopping,
tem para todos os gostos;
pague à vista ou parcele em 12 vezes no cartão.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Real
Já parei para pensar
por que o real é o inverso do ideal

pensei, dias e dias
pensei também em várias línguas
em vários cenários
vários canários
pensei nos vários tipos de animal
pensei, pensei, pensei

a conclusão não me veio, caro colega de pensamento
cheguei a acreditar que o real e o ideal eram a mesma coisa
e como fui tolo

o real apresenta-se como ideal
a vida nos atinge como um soco na cara quando a gente cresce
e nos dá um chute na canela quando a gente a compreende
que o ideal é uma fantasia

no mundo do real
a garota que eu gosto não gosta de mim
meu salário é pouco
minha cidade é feia
meus ideais me traem

o mundo ideal é aquele que a gente cria na cabeça da gente
onde a garota que eu gosto me ama
meu salário é o suficiente
minha cidade é linda
traião é lenda

mas ainda não sei diferenciar
por que o ideal se faz tão real nos sonhos da gente
é tão bom imaginar a felicidade

e tão ruim quando a gente acorda
e a realidade transforma aquele sonho bom em purê de batatas
e aí a gente acorda e vai trabalhar
no lugar onde a garota que eu gosto não gosta de mim
meu salário é pouco
minha cidade é feia
meus ideais me traem
tudo como era ontem, e vai ser amanhã.

talvez o ideal seja viver o real
e talvez o real seja só dinheiro que cai na conta todo mês.

Post de estréia

Deixei meu amor no boteco da esquina
e fui trabalhar
voltei, meu amor tinha sumido
mandei minha auto-estima atrás dele

voltou cansado, e de mãos abanando
e me contou o causo

perguntou no boteco sobre o vil sentimento
disseram que bebeu muito aquele dia
e saiu pela rua trocando as pernas
gritando todas suas desilusões para a Lua e para as Estrelas
e não obteve resposta
e foi andando por aí
até cair e decidir não levantar
e enquanto isso, a auto-estima olhava tudo, sem ação
até o amanhhecer, nada aconteceu
então, acorda o amor
com ressaca e longe de casa
encontrou uma dama
que o levou para casa, deu comida e roupas novas
e então o levou para longe
muito longe
e então, a auto-estima foi atrás
através das planícies e montanhas
viu meu amor ser escravizado pela dama
com crueldade,
meu amor foi iludido
e agora sofria muito
a auto-estima decidiu tomar ação
libertou meu amor das vis amarras,
derrotou a dama malvada cuspidora de fogo
e voltavam felizes para casa
então meu amor caiu num buraco
e nunca mais foi visto
assim termina a história do amor perdido
de repente
assim como ela começou.

chorei, ofereci um drink para minha auto-estima
mandei ela pro quarto dela
e mandei a dignidade pro buraco.