quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Amos nunca amou ninguém. Dentro de sua cabeça ninguém era merecedor de sua confiança, conhecia bem demais as pessoas para saber que nenhuma delas o surpreenderia, que nenhum ser humano que fosse nesse planeta Terra poderia agir de uma forma que ele não reconhecesse ou prevesse como um movimento do xadrez.

Amos tinha 19 anos e não sabia de nada.

Vinha de uma família rígida, seu pai, coronel aposentado, respeitava as regras acima de tudo, com ele não havia perdão, apenas a punição certa e o medo de errar na frente desse homem. Sua mãe respeitava o pai, num ciclo perfeito. Não deixavam-no brincar com outras crianças, nem tinha vontade de brincar na rua mesmo... preferia a frieza de um computador, a escuridão de seu quarto, e a eventual visita de um primo ou outro. Nos estudos, Amos era o melhor, dedicava-se completamente, tentava nem respirar enquanto resolvia os exercícios de álgebra como se fossem brincadeirinha.

Ninguém era melhor que Amos.

Teve poucos amigos. Todos eles o decepcionaram de alguma forma, deixando cada um uma cicatriz cada vez mais feia no jovem, namoradas que o traíam, amigos que o decepcionavam, amores não correspondidos, irmãos ausentes, seus ídolos pareciam zombar dele, até seu reflexo no espelho parecia dissimulado.

Amos conheceu uma menina.

(continua)
(continuando)

Ela era dançarina. Conheçeu Amos num restaurante, ela havia derrubado uma taça de vinho em seu terno, após os pedidos de desculpas e gentilezas mútuas, sentaram-se juntos. Curiosamente, nesse dia, só tinha os dois no restaurante, haviam esperado pelos seus encontros, que nunca apareceram naquele dia. Já amanhecia, Amos tinha que trabalhar e Amélia tinha que treinar, trocaram telefones, ligaram, e quiseram se encontrar de novo no mesmo dia. Amélia teve uma história conturbada. Amou outro dançarino que só fez de a machucar, mas, no fundo do coração, Amos era grato a essa pessoa, nossas experiências nos fazem quem somos, se essa é a mulher que amo, então amo todas as partes dela, as boas e as ruins.

O que é essa vontade?
O que significa essa necessidade, de sentir seu perfume todo dia, de abraçá-la toda manhã, de ouvir sua voz antes de adormecer?

O tempo passou. O Jovem casal enamorou-se. A família de Amos a odiava, ela era a voz da mudança, uma emissária do diabo, Aquela que levaria o bom moço para o mau caminho. Amos não ligava pro que falavam, tinha que vê-la todo dia, por mais que dissesem que ele mudou, que ele era outro, nada mais importava.

Assim passam os dias. Amélia e Amos, juntos. Além das adversidades do mundo, os dois contra o resto, isso é a felicidade, é o sentido da vida. Não importa mais o quanto ele sabe, de que importa ser rico se ela não estivesse ao seu lado? De que adiantaria ser o melhor de todos se não há ninguém para dizer "estou orgulhosa de você"?

3 comentários:

  1. "Dentro de sua cabeça ninguém era merecedor de sua confiança, conhecia bem demais as pessoas para saber que nenhuma delas o surpreenderia, que nenhum ser humano que fosse nesse planeta Terra poderia agir de uma forma que ele não reconhecesse ou prevesse como um movimento do xadrez."

    Isso mudou????

    Anyways, lindo, ninguem mais do que eu quer saber a continuação dessa história... talvez vc queira tanto qto eu, neh?

    Lindo!

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  2. a continuação só existe no nosso futuro, isso que é lindo de verdade

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