segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Tá aí a minha tentativa de homenagear Charles Bukowski. Sei que ficou uma merda.


Moscas

É tarde, tão tarde que é quase cedo, tipo umas 5 da manhã, tou voltando pra casa de metrô depois de encontrar uns amigos num bar qualquer, na vila Mariana, isso eu lembro certo. Sei que o segurança teve que expulsar a gente, meus amigos começaram a discutir sobre a existência ou não de Deus, acho ridículo quem se exalta falando disso.

Enfim, cá estou, um longo caminho até a minha estação, já vou recuperando minha consciência, esperando o trem chegar, em uns 40 minutos já to em casa dormindo, prontinho pra ressaca de amanhã, pronto pra mais um dia ruim num trabalho que eu não curto fazer. É nessa hora que chega meu trem, eu entro e me sento, o vagão está vazio, deserto, exceto pela mulher sentada a dois bancos na minha frente.

Não consigo não encara-la, Madonna, como ela é linda. Está usando um vestido verde, a saia é curtíssima, posso ver suas coxas musculosas, ela está de pernas cruzadas, a saia está tão levantada que quase posso ver sua bunda. Seus olhos são verdes, por um segundo, nosso olhar se cruza, e ela parece ver o que de mais íntimo eu guardo em minha alma, mas eu só consigo devolver aquele olhar de tesão pra ela.

Eu quero que ela me abrace, quero sentir o perfume dela enchendo todos os buracos do meu ser. Quero ter uma história com essa mulher, quero que ela me conte tudo que ela pensa, quero ser cúmplice de sua vida. Quero que ela confie em mim, quero confiar nela. Quero dar um beijo nela. Queria poder ter a coragem de chegar lá e dizer “você é linda”, ou “eu quero te amar”. Qual seria a reação dela? Será que me daria um tabefe? Me chamaria de tarado? Acho que ela sente o meu bafo de álcool daqui.

Não quero que ela sinta nojo de mim, eu não sou assim, não quero que ela tenha a idéia errada, eu quero que ela sinta o mesmo por mim... mas eu sou um cara nojento, eu bebo, eu fumo, eu brigo, eu escrevo.

E assim ela se levanta, será que ela vai se sentar ao meu lado e sussurrar ao meu ouvido? Será que o que eu pensei era verdade? Será que ela vai me amar? Será que ela vai mudar minha vida?

Ela sai do vagão.

E eu continuo aqui fedendo, as moscas rondam minha cabeça como os pensamentos que eu teimo em abandonar.

Mais um dia que eu passo sozinho.

Preciso de um drinque.

3 comentários:

  1. Capturou todo o lado romântico da terceira geração, fe! ficou muito bom, mas acho que faltou um pouco mais de "foda-se" do old buk... não sei... mas não imagino ele romântico... mas gostei muito do toque de buk nos textos by fe cazelli

    ;*

    ResponderExcluir
  2. Foi só um toquezinho, o romantismo vem da minha parte mesmo =)

    ResponderExcluir
  3. Eu gostei. Ignorante que sou, cou googlar o carinha pra ver de onde vem a inspiracao...
    Adoro os fins do nada, mas com fins.

    ResponderExcluir